As dores de Jó
©
Letícia Thompson
Não entendo porque temos de maneira geral uma natureza tão negativa,
independentemente da nossa personalidade.
Se para alguns tudo é sempre bonito, tudo é bom e se o sol desaparece ele vai
voltar o que quer que aconteça, para outros, os dias se seguem uns depois dos
outros, apenas com horas repetidas e cenas que se sucedem, numa monotonia muda e
dolorida.
E para todo mundo, as infelicidades pesam cem vezes mais
que os momentos de alegriam que arrebataram nosso coração.
A dor é pesada e a felicidade é leve.
As lágrimas de tristeza apagam mais rápido o que de bom aconteceu e
raros são os que têm a força e coragem de dizer: "perdi, mas tive" "choro hoje
mas ontem dei gargalhadas" ou "a vida vale a pena mesmo se sigo tropeçando."
Não creio! Não posso acreditar em 24 horas por dia e 365
dias por ano de dor infinita sem que em algum momento uma alegria tenha tocado
nosso coração nem que seja de leve. Deve existir, como todo mundo de exceções,
uma infelicidade assim grande e duradoura, mas prefiro acreditar que seja
realmente uma exceção e não uma fatalidade.
Conheço alguém que colheu todas as mágoas e dores
possiveis reunidas em um só ano, como não acreditamos que seja possível. Mas
ainda assim não se pode dizer que a vida seja uma sucessão de coisas ruins sem
dia, sem raio de sol, sem primavera e sem as estrelas que nos olham do alto.
Quem planta dores colhe dez vezes mais as mágoas
espalhadas pela vida, que seja hoje, que seja amanhã. Isso é o reflexo natural
das coisas que se faz aqui e ali. Mas duro mesmo é ver colher lágrimas quem com
lágrimas semeia o bem e o bom. Duro é ver a injustiça para os que partem cedo
demais, sofrem cedo demais, que não escolheram, mas tiveram suas cabeças
apontadas. Insuportável!...
Portanto, a vida não escolhe e nos curvamos. Nos
apegamos desesperadamente a uma esperança futura que encontramos quando olhamos
para a Cruz e compreendemos que Aquele que viveu a maior injustiça foi
perseguido, cravado e coroado de espinhos.
Todos os dias do ano não são ruins ao todo. Jó teve,
perdeu, chorou e foi recompensado pela paciência e perseverança.
Há um amanhã que nos aguarda e acolhe a todo aquele que
não desespera. Há e haverá um amanhã e todo aquele que crer. Este verá e viverá.
Letícia Thompson
webmaster@leticiathompson.net
Font used, TrueLove
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